Turismo sustentável: produção de lixo aumenta 30% na alta estação com maior fluxo de turistas na Paraíba

Turismo sustentável: produção de lixo aumenta 30% na alta estação com maior fluxo de turistas na Paraíba Kleide Teixeira/Arquivo O aumento no setor de tur...

Turismo sustentável: produção de lixo aumenta 30% na alta estação com maior fluxo de turistas na Paraíba
Turismo sustentável: produção de lixo aumenta 30% na alta estação com maior fluxo de turistas na Paraíba (Foto: Reprodução)

Turismo sustentável: produção de lixo aumenta 30% na alta estação com maior fluxo de turistas na Paraíba Kleide Teixeira/Arquivo O aumento no setor de turismo é motivo de celebração: aquece a economia, movimenta comunidades, amplia horizontes, mas cresce também a pressão sobre ecossistemas sensíveis, aumenta a produção de resíduos e intensifica o consumo de água e energia. E é nesse cenário de desafios e oportunidades, que práticas sustentáveis se tornam ainda mais urgentes. Só em janeiro de 2025, o Aeroporto Internacional Castro Pinto registrou um fluxo total de 181.402 passageiros, sendo 181.005 voos domésticos, número que representa um aumento de 4,68% em relação ao mesmo mês de 2024. Quem vem, se encanta. Mas quem vem e fica, passa a ter um outro olhar. Lixo que é apenas um dos desafios para um turismo sustentável. Dados da Emlur, solicitados pelo Núcleo de Dados da Rede Paraíba de Comunicação, mostram que nos meses de alta estação, ou seja, janeiro e fevereiro, a produção de lixo aumenta em 30%. Em dias normais são produzidas mil toneladas por dia. No veraneio, são 1,3 mil toneladas diárias de lixo sendo recolhidos. Um terço desse volume é de descarte irregular: 433 toneladas por dia. Realidade que gera um custo muito maior para o município do que a coleta de resíduos descartados de maneira adequada. De acordo com o superintendente da Emlur, Ricardo Veloso, com a rede hoteleira e com os donos de bares e restaurantes, há uma colaboração para otimizar e disciplinar melhor o descarte do lixo. “Ordenamos melhor para o descarte ser feito próximo à passagem do caminhão, o descarte do material reciclado separado do úmido, ou seja, separar o orgânico do seco, enfim, são ações como essa que tem alavancado o aumento, a ampliação da coleta seletiva e da gestão ambiental dentro da nossa cidade”, declara. Produção de lixo aumenta com a alta estação, em João Pessoa Mayara Medeiros/TV Cabo Branco No início deste ano, a Paraíba deu um importante passo no desenvolvimento do turismo estadual ao ter 80 municípios oficialmente reconhecidos no Mapa do Turismo Brasileiro, instrumento do Ministério do Turismo. Esse reconhecimento amplia a visibilidade do estado no cenário nacional, mas também vem com mais força a necessidade de pensar em um turismo que adote práticas mais ecológicas. Em Pitanga da Estrada, Distrito de Mamanguape, há um bom exemplo, que integra lazer, natureza e consciência ambiental. Rúbia Rezende é proprietária do Pesque e Pague Paraíso Verde Meu Xodó e faz questão de colocar a preservação como prioridade no local. “A gente planta o nosso próprio capim. A gente aproveita também o esterco do gado para adubar a nossa plantação, as nossas fruteiras. Tudo o que a gente tem, a gente tem que preservar”, ressalta. Rúbia Rezende, proprietária do Pesque e Pague Paraíso Verde Meu Xodó, em Pitanga da Estrada Mayara Medeiros/TV Cabo Branco Preservação da vegetação nativa, uso do rio com responsabilidade e incentivo à economia local fazem parte da proposta. E quem trabalha por lá são pessoas da própria comunidade. “Muita gente vem de fora. Eu falo muito por crianças, tem crianças que chegam aqui que nunca viram uma galinha na vida. Então, a gente preservar a natureza também é isso, é mostrar às crianças que existem animais fora da tela. Existem animais reais de verdade”, reflete Emanuelle Ribeiro, garçonete no local. São regiões do estado que apostam no ecoturismo, um turismo de natureza que utiliza o patrimônio natural e cultural de forma sustentável. Pesque e Pague Paraíso Verde Meu Xodó, em Pitanga da Estrada, na Paraíba Mayara Medeiros/TV Cabo Branco Em João Pessoa, quem vem em busca dessa opção, ainda não tem entrado para as estatísticas Não há dados que comprovem essa busca, segundo a Secretaria de Turismo da capital. Já na região da orla, hotéis lotados. Atualmente, são quase 13 mil leitos com 90% da ocupação média, pelo menos até o carnaval de 2026. Com a alta demanda, aumenta também a necessidade de estratégias sustentáveis nos locais que oferecem as hospedagens. Daniel Rodrigues, secretário-executivo de turismo de João Pessoa, explica que, juntamente com a Associação dos Hotéis da Paraíba, há um incentivo e planejamento para essa conscientização. “Não somente dos hotéis, mas dos bares, dos restaurantes, dos quiosques à beira da praia, para que possamos ajudar o meio ambiente no reaproveitamento da água, na energia solar”, diz. Ainda na área urbana da capital, o Bosque das Nascentes, santuário ecológico com remanescente de Mata Atlântica, é um importante espaço de conservação da biodiversidade, próximo ao Centro de João Pessoa. Junto ao Instituto Lixo Zero, poder público e sociedade civil lutam para combater o descarte irregular do lixo na região. Turistas que buscam trilhas ecológicas, se unem à causa. Um lado avesso ao que os especialistas chamam de “turismo de massa”. É o que explica a professora de turismo e hotelaria da UFPB, especialista em desenvolvimento e meio ambiente, Denise Gadelha. “O turismo de massa, muitas vezes — para não dizer todas — é predatório. Ele se torna predatório porque os recursos não são infinitos. A gente costuma pensar: ‘Ah, isso não vai acontecer aqui.’ Mas já está acontecendo. Há pouco estávamos reclamando do calor na cidade, e isso já acontece em todo o país. Por isso, é necessário um turismo mais consciente, como muitos especialistas defendem. Um turismo em que o visitante venha para agregar valor, e não para destruir, especialmente quando se trata dos atrativos naturais. Não que o turista venha com essa intenção, mas, como muitas coisas acontecem sem planejamento ou com pouco desenvolvimento estruturado, a tendência é que ocorram impactos negativos — muitas vezes sem que o visitante perceba. Ele acaba fazendo algo de forma inconsciente, mas que, ainda assim, causa prejuízos”, reflete a pesquisadora. Professora de turismo e hotelaria da UFPB, especialista em desenvolvimento e meio ambiente, Denise Gadelha Mayara Medeiros/TV Cabo Branco Uma rota crescente de gente que chega, sai, ou escolhe ficar. Em 2024, o número de viagens nacionais com a Paraíba como principal destino aumentou 7,3%, segundo a Pnad do IBGE. Foram 339 mil deslocamentos ao longo do ano, acima das 316 mil viagens registradas em 2023. É a terceira alta seguida apontada pela pesquisa. Um salto consistente que começou em 2020, com 186 mil viagens, passou para 203 mil em 2021 e hoje consolida a Paraíba no radar dos viajantes brasileiros. Até maio de 2025, a Paraíba apresentou alta de 22,3% no número de turistas estrangeiros que a escolheram como principal destino no Brasil. Cabe aos municípios repensar o fluxo de visitantes, ampliar áreas de preservação, garantir mobilidade sem sufocar as ruas, fortalecer políticas de coleta e destinação de resíduos, e abraçar iniciativas de turismo que devolvam às comunidades o protagonismo que é delas, por direito. Mas nenhuma cidade consegue isso sozinha. “Ainda dá tempo. Eu penso que ainda dá tempo da gente fazer a coisa melhor para todos nós”, reflete a pesquisadora Denise Gadelha. Vídeos mais assistos do g1 Paraíba